Neste último
sábado de maio, participei de mais uma das reuniões mensais da Associação
Mineira de Apoio às pessoas com Neurofibromatoses (AMANF), que acontecem há
cerca de 13 anos de forma regular.
Entre os diversos temas interessantes que
discutimos, um deles parece importante comentar aqui: se devemos ou não
informar às pessoas com as quais convivemos que temos uma das formas de
neurofibromatose. É claro que cada pessoa tem suas razões para comentar ou não
com os outros sobre sua doença, então, vou apresentar a minha opinião.
Inicialmente,
é preciso saber se a doença é evidente para as demais pessoas. Uma doença pode
ou não ser percebida de imediato por causa de sinais aparentes (como as manchas
café com leite, os neurofibromas, ou uma deformidade) ou por causa de alterações
na interação social, como dificuldade cognitiva (tipo de fala, capacidade de
perceber o ambiente) ou alteração comportamental (timidez, inquietude,
isolamento).
Por exemplo,
na neurofibromatose do tipo 1, desde a infância alguns sinais e comportamentos
são visíveis para a família, colegas e professores. Ao contrário, na
neurofibromatose do tipo 2 os sinais e sintomas geralmente aparecem depois da
adolescência e na Schwannomatose depois dos 30 anos de idade.
Na minha
opinião, especialmente como pai de uma pessoa com NF1, creio que quando a doença
não é visível de imediato não haveria benefício em tornar pública a sua
existência, a não ser quando alguma limitação (auditiva ou visual, por exemplo,
na NF2) se tornasse evidente.
Por outro lado, na NF1, os sinais e sintomas
geralmente já são facilmente percebidos em metade das crianças desde a sua infância
e, numa parte delas são tão evidentes que não podem ser ignorados (como uma assimetria
facial causada por um neurofibroma plexiforme sobre uma das pálpebras, por
exemplo).
Assim, creio
que quando a neurofibromatose for evidente, seria útil falarmos sobre a doença
com aquelas pessoas que convivem diretamente e cuidam da criança.
Por quê?
Primeiro, porque tenho a impressão de que quando as pessoas tomam conhecimento do
que se trata um determinado problema (uma mancha cutânea, um neurofibroma, um
comportamento diferente, timidez, dificuldade de aprendizado, por exemplo),
elas podem afastar o seu medo e o seu preconceito.
É humano e
natural que tenhamos medo do desconhecido, e por isso reagimos ao nosso próprio
medo com a zombaria, a discriminação, a piada, o preconceito e a discriminação
da diferença.
No entanto, nos sentimos mais tranquilos quando somos informados
de que aquele problema não é contagioso, de que não vai crescer duma hora para
outra, de que aquilo pode doer ou não, de que já está sendo acompanhado por
profissionais da saúde e que faz parte de outros problemas ligados à neurofibromatose.
Ao serem
informadas sobre o problema de saúde da criança, as pessoas sentem que
mereceram a confiança da pessoa doente ou de sua família e elas têm a chance de
manifestarem sua simpatia e seu acolhimento. Como meu neto Francisco, que ao
saber que sua tia Maria Helena era a única em toda a família com as manchas
café com leite, disse: - Não se preocupe, tia Bebé, quando eu crescer vou ter
neurofibromatose com você.
Além disso,
é fundamental que as pessoas envolvidas nos cuidados da criança com NF1 (professores,
familiares) saibam de sua doença para ajudarem-na a enfrentar as dificuldades relacionadas
com a doença, oferecendo os suportes especiais para que ela possa atingir seu
potencial humano (como mais tempo para fazer o para casa, local especial na
sala de aula para não ser distraída, dicas de atenção durante uma prova,
posição especial nos esportes, etc.).
No entanto,
sei o quanto é difícil dizermos a outra pessoa que um parente nosso,
especialmente um filho ou filha, tem uma doença genética. Muitas famílias fazem
verdadeiro voto de silêncio em torno de uma doença genética num de seus membros,
e esta negação da doença acaba por aumentar um certo sentimento de vergonha,
como se houvesse algum tipo de culpa por parte dos pais. Se não se pode falar de
um assunto é porque ele deve ser motivo de vergonha, e assim, com nosso
silêncio, acabamos reforçando o preconceito.
Como as
doenças genéticas são mesmo de difícil compreensão (até mesmo pelos
profissionais da saúde), temos medo de expor nossa criança e não sermos
compreendidos, de que nossos outros filhos sejam prejudicados em seus
relacionamentos, enfim, temos receio de que oportunidades sejam perdidas pela
nossa família pelo preconceito social.
Apesar
disso, ainda acredito que o melhor caminho é vencermos a barreira do silêncio e
revelarmos a doença para quem convive com nossa criança.
Mas, se
vamos falar sobre a neurofibromatose, o quanto explicar sobre a doença de cada
vez? Aos professores, demais parentes e cuidadores, devemos fornecer
informações básicas e úteis, que possam fazer diferença no cuidado, de forma
positiva, evitando transformar nossa criança numa vítima.
E para colegas
e amigos das crianças com neurofibromatose? Este é um ponto muito importante.
Primeiro, penso que devemos informar a própria criança sobre sua doença, na
medida em que ela for perguntando e tendo idade para compreender as respostas. Para
isto criamos a cartilha “As manchinhas da Mariana”, gratuita e disponível na
página da AMANF. Nossa experiência nestes vários anos com a cartilha é que ela
é útil para os pais conversarem com a criança e com os professores e colegas.
Para
concluir, a nossa presidente atual da AMANF, Maria Danúzia Ribas, tem utilizado
uma saída muito interessante: ela pede à própria filha que explique, quando
possível, é claro, a sua doença para colegas e amigos. Creio que isto é uma boa
ideia.
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