Continuando
nossa compreensão da dor neuropática nas neurofibromatoses, retomo a partir do
ponto 4, na figura acima.
O
ponto 4 refere-se às conexões que existem na medula espinhal, entre os nervos
que trazem o estímulo doloroso da periferia do corpo e os nervos que conduzem
estes estímulos até os centros superiores no cérebro.
Na
medula, pode ocorrer menor inibição da sensibilidade dolorosa, ou seja, o
filtro realizado pelos neurônios na medula estariam menos ativos, permitindo a
passagem da dor com mais facilidade para os centros superiores. Alguns analgésicos
e a cortisona podem agir nestas conexões, reduzindo a dor, como, por exemplo,
nos chamados bloqueios com cortisona injetada ao redor da medula.
No
ponto 5, novos filtros (modulações) dos estímulos podem ocorrer, aumentando ou
diminuindo a sensibilidade dolorosa. Neste ponto, algumas drogas chamadas
neurolépticas e os anticonvulsivantes podem ajudar a reduzir a passagem dos
estímulos dolorosos.
No
ponto 6, sabemos que a dor é modulada, ou seja, aumentada ou diminuída por
fatores emocionais e pelo estado de humor. Assim, a mesma lesão física pode
parecer muito mais dolorosa à noite, quando nosso humor aumenta as percepções
da fadiga, do cansaço e dos perigos, porque somos seres diurnos, selecionados
para vivermos durante o dia e repousarmos à noite.
Também
sabemos que a depressão e a ansiedade podem aumentar a sensação de dor. Por
isso, antidepressivos e ansiolíticos podem ajudar a controlar a dor nas
neurofibromatoses.
O
ponto 7 corresponde às diversas regiões do cérebro onde armazenamos nossas informações
sobre aquilo que acontece conosco. Assim, a memória, o conhecimento e o
aprendizado da dor participam da regulação de como percebemos a dor e o medo que
ela nos causa. Por isso, a psicoterapia, o acompanhamento psicológico e o
controle cognitivo podem auxiliar o controle da dor neuropática nas
neurofibromatoses.
O
ponto 8 corresponde à expressão genética de uma herança com maior ou menor
sensibilidade para a dor. Neste sentido, parece que a ausência da
neurofibromina na NF1, pelo menos em camundongos de laboratório, aumenta a
sensibilidade dolorosa de um modo geral.
É
preciso lembrar que deve haver outros mecanismos de dor nas neurofibromatoses
que desconhecemos ainda. Por exemplo, não sabemos exatamente porque os
neurofibromas cutâneos (na NF1) raramente são dolorosos e os schwannomas podem
ser dolorosos na NF2 e são muito dolorosos na schwannomatose.
Finalmente,
também é preciso reconhecer que vários dos mecanismos do ponto 1 ao ponto 8
podem estar atuando ao mesmo tempo numa pessoa com neurofibromatose e por isso o tratamento da
dor neuropática geralmente é complexo e multidisciplinar.
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