Menos Diabetes do tipo 2 na Neurofibromatose do tipo 1?



Ontem comentei sobre a possível relação entre os achados do doutorado da Cinthia Vila Nova Santana (telômeros mais longos na NF1) com a menor incidência de Diabetes tipo 2 (DM2) nas pessoas com NF1 na pesquisa realizada em outro doutorado, desta vez da nutricionista Aline Stangherlin Martins, no Programa de Pós Graduação em Ciências Aplicadas à Saúde do Adulto, da Faculdade de Medicina da UFMG, orientada pelo professor Nilton Alves de Rezende.

Desde o início do nosso ambulatório especializado em Neurofibromatoses sediado no Hospital das Clínicas da UFMG, já atendemos mais de 900 famílias e nossa impressão clínica é de que não há pessoas com NF1 e que apresentem ao mesmo tempo a DM2.

Como já vem se tornando bastante conhecido de todos, a DM2 também é chamada de diabetes do adulto, está relacionada com a ingestão excessiva de açúcar, com a obesidade, com o sedentarismo e com fatores genéticos.

Por outro lado, acompanhamos há alguns anos dois casos de crianças com NF1 e diabetes do tipo 1, chamada diabetes juvenil, que ainda não tem uma causa bem conhecida.

Diante disso, temos estudado esta questão e recentemente a Aline concluiu seu doutorado sobre a incidência de DM2, resistência à insulina e alguns outros marcadores biológicos metabólicos. Seus dados finais serão apresentados no próximo Congresso em Neurofibromatoses em Austin, nos Estados Unidos.

Em seu estudo, a Aline convidou 40 pessoas com NF1 e 40 pessoas sem NF1 para serem controles. Para cada pessoa com NF1 havia outra, do grupo controle, da mesma idade, do mesmo sexo, com o mesmo peso corporal e mesmo índice de massa corporal. Amostras de sangue destas pessoas foram colhidas e analisadas quanto aos níveis de glicose em jejum e duas horas depois de ingerirem açúcar.

Além disso, Aline mediu em todos os voluntários os níveis de hemoglobina glicada (que indica como anda a glicemia nas últimas semanas), a insulina no plasma, o índice de resistência à insulina (HOMA-IR) e outros indicadores metabólicos (adiponectina, leptina e visfatina).

Em seus resultados Aline observou que a glicemia de jejum foi menor nas pessoas com NF1, apesar da resistência à insulina ser semelhante ao grupo controle. No entanto, a adiponectina estava aumentada e a leptina e a visfatina diminuídas. 


Em conjunto, os dados da Aline indicam que a chance de uma pessoa com NF1 desenvolver a DM2 é menor.

Ainda não sabemos a causa desta diferença metabólica entre as pessoas com NF1 e o restante da população, mas é possível que a menor chance de desenvolver DM2 explique a menor mortalidade encontrada em pessoas com NF1 causada por doenças cardíacas, como a obstrução das coronárias por aterosclerose.

Parabéns Aline, pelo seu trabalho original, cuidadoso e bem desenvolvido.



Você já mediu sua pressão arterial nos últimos doze meses?

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